Junto da Cruz, está a Mãe. O Filho morre-lhe ali. É o seu tempo, a sua hora. E Ela, que aceitou aquele Evangelho do sofrimento e o fez Seu, segura-lhe a dor com as Suas mãos e cala o Seu grito. O grito de Maria morre-lhe no peito. Os Seus braços, vazios, hão-de voltar a receber Jesus, quando O descerem da Cruz. Há-de embalá-Lo de novo, cantar-lhe salmos antigos, numa toada de ninar.
Junto da cama, está a mãe. O filho sofre-lhe ali. O tempo, agora, é outro. A noite apagou o luar da enfermaria, as lágrimas afogaram a esperança. A dor tomou conta das mãos que se crispam nos lençóis. O sofrimento tem a forma da Cruz e tem nela pendurado o medo.
Junto da dor, está a Mãe. O Seu grito calado é um beijo. O Seu manto de luz e de céu envolve o corpo do filho e aquece-lhe o sono. Então, as traves da cruz abraçam a angústia derramada sobre a cama e dão-lhe sentido.
A Mãe, baixinho, na sua voz de beijo, fala de salvação. Diz que é preciso morrer para ressuscitar, diz que a cruz aponta para o céu, diz que o Filho, o que também era Deus, também experimentou a aflição, o cansaço, o medo, a dor, as lágrimas. Diz que o segredo está no Amor.
Junto do Amor, está a Mãe. É Ela que anima o cuidador. Conta-lhe a Parábola do Samaritano e, com as Suas Mãos presas às dele, explica-lhe que o próximo é aquele que se detém junto ao sofrimento do filho. Fala-lhe da cruz. Da cruz de quem trata, da cruz de quem protege, da cruz de quem abraça, da cruz de quem fica junto, a esperar a morte.
Junto da morte, está a Mãe. Estende a mão ao filho e condu-lo ao Céu. Não está sozinha. Com Ela, um campo infinito de luz. É o Seu Filho, O que também era Deus, que Ela abraçou quando O desceram da Cruz.
Junto de nós, está a Mãe. Mesmo sem estarmos doentes, Ela está sentada à nossa beira e vela por nós. O que lhe pedimos, agora, é apenas o que resta da nossa fraqueza:
Se o medo vier, não deixes.
Se a noite descer, acende-a.
Se a desgraça vier, protege-me.
Se a doença chegar, segura-me.
Se o mundo ruir, constrói-me,
Santa Maria, Mãe de Deus.
Graça Alves
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