domingo, 24 de janeiro de 2010

«Este é o meu tempo» — a propósito das jornadas de actualização

Estávamos sós. Deserticamente sós. Deixámos de ter tempo para parar, para reparar nas pessoas que viviam à nossa volta, para perceber que a vida não se guardava nas paredes da nossa casa, do bar onde tomamos o café todas as manhãs ou no barulho da rua que nos impede de ouvir o silêncio. Calámo-nos. Esvaziámos de sentido as palavras. Dizemos amor como quem fala do tempo. Dizemos Meu Deus! como quem não diz nada.
Estávamos infelizes. Dramaticamente infelizes. Procurámos o prazer que abre a gargalhada no imediato. Comprámos o mundo para enganarmos a rotina. Lutámos por tempo livre para o matarmos. Percorremos mundo à procura do paraíso e não o encontrámos
Estávamos vazios. Desesperadamente vazios. Matámos Deus na ânsia de querer saber todas as respostas. Pusemos a ciência no altar, adorámos a razão, criámos mecanismos de salvação e pendurámo-nos na cruz. Nós. Na solidão de homens sem mais nada, sem esperança, sem sentido para continuar aqui. Instalámos, então, em nós um gabinete de crise. Era urgente impedir a morte. A nossa. Precisámos de recuperar o Infinito, a noção de eternidade que nos faltava, uma razão que nos impedisse de morrer.
Chegámos aqui. Percebemos que Deus é “Aquele que é”, que não se prova com uma fórmula matemática. Descobrimos que na nossa história faltavam verbos conjugados na primeira pessoa: “eu acredito”, “eu amo”, “eu entrego”, “eu abraço” ,capazes de derrubar os muros que já não estão em Berlim, mas dentro de nós. Percebemos que somos feitos de Deus, justificados pelo Baptismo, responsáveis na salvação do mundo.
Somos sacerdotes, afinal. Sagrados. De Deus. Rezamos o Credo e dizemos que sim, que acreditamos – em Deus, Pai e criador de todas as coisas, em Jesus Cristo, Homem e Deus, no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, na Igreja, una, santa, católica. Rezamos o Credo e dizemos que sim, que professamos um só baptismo e que esperamos a vida eterna.
E então? Porque continuamos a viver nesta angústia, no luto de um deus morto, na solidão de não haver ninguém que cante connosco, que chore connosco, que nos restitua a coragem, a fidelidade ao que éramos quando ainda não tínhamos vergonha de rezar?
O que fizemos de nós, afinal? Onde guardámos a alegria - menina que a mão do pai nos transmitia quando tínhamos medo? O que fizemos das lágrimas que lavavam as noites do tempo em que a mãe nos abraçava e, num beijo, nos embalava o sono?
Voltámos, então a Belém. Vimos que, apesar de tudo, o Amor voltou a nascer. Acompanhámos o silêncio branco de Maria que nos falou, outra vez, de fé incondicional na palavra de Deus. Voltámos ao rio Jordão e ouvimos a voz do Céu a derramar o Espírito: “Este é o Meu filho muito amado. Escutai-O” (Mc 1, 7-11). E fomos enviados: “Ide e anunciai” (Mc 16,15)
Este é, portanto, o nosso tempo. Os olhos do mundo estão postos em nós. Cabe-nos não ter medo de mostrar que somos feitos de Valores, que somos massa de Deus. O tempo é este. O campo está pronto: a sociedade precisa das nossas respostas porque nunca teve tanta sede de justiça, tanta sensibilidade ecológica, tanta preocupação pela dignidade da pessoa humana, tanta fome de liberdade, o mundo tão perto.
Este é o meu tempo. O tempo das palavras com vida dentro. O tempo da esperança escrita na vida. O tempo de mostrar que a cruz aponta dois caminhos: mostra o céu e abraça os irmãos.
Este é o meu tempo. O tempo da vida com esperança dentro. O tempo em que, se Deus quiser, se pode servir das minhas mãos para ajudar a desenhar um sorriso na humanidade.

Graça Alves (escritora)

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FICHA TÉCNICA:Hino da Visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima à Diocese do Funchal

LETRA - Pe. GISELO ANDRADE

MÚSICA - Pe. IGNÁCIO FIGUEIRA RODRIGUES

GRUPO CORAL "FLORES DE MAIO" - PORTO DA CRUZ

ORGANISTA - JOÃO CALDEIRA

DIRECÇÃO ARTÍSTICA - VIRGÍLIO CALDEIRA

CAPTAÇÃO DE SOM e EDIÇÃO DIGITAL -JOÃO CALDEIRA

"Novo" Calendário da Visita da Imagem Peregrina

Paróq. de Fátima - Funchal - 12 e 13 Fev.

Hosp. Dr. João de Almada e Paróq. do Livramento - 12 e 13 de Fev. - Fotos de Carlos Cabral

Monte, Visitação e São Martinho - 7 a 11 Fev. - Fotos de Carlos Cabral

Paróquia da Nazaré - 5 a 7 Fev. - Fotos de Carlos Cabral

Mosteiro das Irmãs Clarissas - Caldeira

Serra de Água e Ribeira Brava - 9 a 13 de Dez. 09

São João - Rib. Brava - 7 a 9 de Dez. 09

Ad perpetuam memoriam - Bênção da Imag. de N. Senhora no Jardim junto à Igreja da Calheta - 20/11/09

Fotos da Visita da Imagem Peregrina em 1948 (7 a 11 de Abril)

Recepção e Acolhimento da Imagem Peregrina na Paróquia da Ponta do Pargo

Imagem Peregrina nas Achadas - 3 e 4 de Nov. 09

Estada e partida da Imagem Peregrina na Santa

Acolhimento da Imagem Peregrina na Paroquia da Santa com passagem pela Cap. dos Lamaceiros - 1/11/09

O dia/noite da despedida da Imagem Peregrina no Porto Moniz

A noite da chegada da Imagem Peregrina ao Porto Moniz

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