(Na apresentação da Conferência da ACEGE/COMISSÃO DIOCESANA COORDENADORA DA VISITA DA IMAGEM PEREGRINA no dia 21 de Outubro na Igreja do Colégio - Funchal).
Associamo-nos a estes momentos de grande importância e alegria para a Diocese do Funchal e para todos os madeirenses, desde que a imagem peregrina aqui chegou.
Todos nós sabemos do valor que a Mãe de Deus tem na história de Portugal, coroada rainha, personagem influente em lendas e passos da nossa cultura, orago em inúmeras igrejas, ermidas e capelas. A Virgem de Fátima está representada em inúmeras igrejas da nossa Terra e em muitos lares. Da infância guardo as descrições feitas pela minha avó de idêntica visita feita há sessenta anos, documentada em reportagem fotográfica extensa e muito expressiva.
Apesar disso não deixei de me surpreender com as manifestações de tantas e tantas pessoas frente à imagem. Vejo que a surpresa não foi só minha, mas generalizou-se um sentido de espanto pela intensa e expressiva religiosidade desses momentos.
Curiosamente a surpresa para alguns esteve eivada de preocupação, receio, crítica.
Alguns acharam estranho e até talvez ridículo o valor que muito deram a uma imagem a percorrer ruas e praças da nossa terra. Poucos, na sobranceria da cultura que julgam superior, desvalorizam o sentido dos que se emocionam, se abeiram da imagem, a tocam, a beijam e tentam lhe fazer chegar símbolos de entes queridos talvez acamados, talvez inválidos.
Há quem veja um sinal de sub-desenvolvimento na influência da imagem da Virgem no sentir e no viver de muitas pessoas, de diferentes condições e localidades.
É evidente que o acontecimento excede o valor do registo histórico, a carga emotiva ou a manifestação de devoção. Na imagem da Virgem Maria os cristãos sentem o Deus revelado em Cristo. Sentem-na como a interlocutora, a que está entre nós e Deus Pai.
Sabem que foi por Ela que o seu Filho nos chegou, e foi a Ela que Jesus nos confiou, pedindo que a albergássemos em nossa casa e a fizéssemos nossa mãe como Dele foi.
É nessa proximidade materna que o Amor de Deus se revela mais humano, mais atento, mais “nosso”. E o homem precisa do Amor de Deus, ao contrário do que pensavam aqueles para quem a Religião tinha morte anunciada.
A procura do amor de Deus é um acontecimento que é cultural porque é intrínseco à natureza humana. Em vez da ideia de alienação que quiseram interpretar nesta procura do divino, a descoberta do amor de Deus é exigente, muito exigente mesmo, para com cada um e na sua relação com o outro.
O Nosso Papa caracterizou a necessidade de Deus como a procura da verdade, algo que vai mais além da razão ou da emoção, mas nunca pode dispensar essas valências do humano e que se reflecte necessariamente na acção, no comportamento de cada um. A procura do Amor de Deus impele-nos a reflecti-lo a sermos testemunhas e agentes desse Amor.
A mãe ensina-nos essa dimensão que nos interpela, que vai mais longe, que sabe abnegar-se para servir, propulsora da conversão. Ela própria foi a maternidade do sim, pronta a ser a “serva do senhor”.
É por isso redutor julgar que o momento da visita da imagem peregrina se esgota em si mesmo e que não será capaz de converte, de mudar e deixar rasto. É por isso maniqueísta não conseguir descortinar os “bons efeitos” que a imagem que passa, traz à vida das pessoas, das famílias, das comunidades, da nossa Terra.
A imagem da Senhora revelada em solo luso, transporta também a mensagem de oração e de paz, conforto aos cristãos de boa vontade. Confiamos na sua intercessão e sabemos que, à distância, nos acompanha e nos protege. Sentimo-la como auxílio nas horas aflitivas, inspiradora nos momentos difíceis, depósito das nossas ansiedades e preocupações. Entregamos-lhe os nossos filhos, os nossos idosos, as nossas doenças, as nossas falhas.
Estranha manifestação para um Mundo auto-suficiente, tão cheio de si.
Estranha devoção para a materialidade que nos rodeia, como se ela fosse a panaceia para todas as nossas preocupações.
Nesse sentido, a imagem de Fátima é também provocação para uma sociedade que quer reservar a fé a um papel reduzido, íntimo, escondido em cada um. Parece que nos querem fazer envergonhar por termos e tentarmos ser seguidores da mensagem de Cristo. Parece que estaríamos condenados a não manifestarmos a alegria do símbolo e da mensagem que esta imagem representa.
RICARDO VIEIRA
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