sexta-feira, 23 de outubro de 2009

NOSSA SENHORA DE MIM – Conferência proferida pela Professora Graça Alves na Igreja do Colégio no dia 21 de Outubro de 2009

NOSSA SENHORA DE MIM

graça_alves Pediram – me para falar de Maria e eu, que me esqueci do valor da humildade, disse que sim. Apesar de não ser especialista em assuntos marianos. Apesar de não saber mais do que toda a gente que esta noite se congregou na Igreja do Colégio para, em comunidade, pensar na figura de Nossa Senhora e no sentido da Mensagem que Ela veio trazer, em Fátima.
Sou apenas uma mulher que tem em Maria um modelo de vida, um colo de Mãe e uma companheira de peregrinação.
Vou, portanto, por aí: por mim, pela forma como Nossa Senhora entrou na minha história e participa das minhas coisas. Porque essa Senhora que é nossa, é minha também.
Ela existe na minha vida desde que me lembro de mim. Foi-me trazida pela mão da minha mãe, pela sua voz de abraço, pelo amor que ela deixava escondido na minha cama, para que eu não tivesse medo da noite.
Associo-A, portanto, a um dos melhores momentos da minha infância, àquele momento em que a minha mãe era só minha, se sentava ao meu lado e me contava uma história. Depois de uma oração pequenina para agradecer o dia, rezávamos uma ave-maria, devagar, as minhas mãos nas mãos da minha mãe e, depois, um beijo. Aquele beijo que só as mães sabem dar e que cura todos os arranhões, que perdoa todas as tropelias, que afasta todos os males. E, se é verdade que, nos dias de maior traquinice, o “Rogai por nós, pecadores” ganhava outro sentido, é verdade também que, sobretudo nesses dias, a “Santa Maria, Mãe de Deus” dava outro sentido ao beijo da minha mãe.
Aprendi-A assim: amorosa. Entendi-A assim: pedindo por mim, mesmo que fosse fraca, mesmo que eu errasse. Senti-A assim: presente no “ agora e na hora da nossa morte”.
Deixei que Ela ficasse. Às vezes, fui eu que me fui embora. Mas Ela foi sempre à minha procura.
Maria esteve comigo, mesmo quando eu tive dúvidas e achei que precisava de respostas. Esteve comigo nos momentos da alegria e nos das lágrimas. Esteve comigo nos momentos das decisões e na hora de todas as escolhas.
Apesar de ter tentado fugir, e eu tentei algumas vezes, Maria foi sempre um lugar seguro. Sempre. Ela era sempre o beijo da minha mãe. Um colo. A Nossa Senhora de mim.
Há várias características no retrato desta mulher que me fascinam e que estão sempre por detrás das palavras que tenho dito e escrito acerca dela:
- a aceitação da vontade de Deus;
- o silêncio;
- a capacidade de se pôr a caminho para ir ao encontro;
-a promoção do encontro da humanidade com o seu Filho;
- a sua atitude no momento da cruz.

Naquele dia branco da Anunciação, em que o Anjo se aproximou com o Recado de Deus, Maria disse que Sim. Na entrega daquele Faça-se!, a sua vida mudou, a nossa vida mudou e Ela permitiu que o Plano que Deus tinha para a humanidade se concretizasse. Naquele dia, os projectos desta mulher deram lugar ao Projecto de Deus. Ela era “a Serva do Senhor”. Apesar de tudo. Naquele dia do anjo, nem lhe pediu um sinal. Só lhe perguntou o como, para não errar. Queria obedecer com amor.
Essa entrega é um dos aspectos que me apaixonam em Maria, esse atirar-se no abismo que é o colo de Deus, mas que é também a consciência da fonte de sofrimentos, consubstanciada na frase de Simeão, aquando da apresentação do Menino no Templo: “Uma espada trespassará a tua alma!”
E desculpem-me os pais e os santos, mas só as mães são capazes disto.
Depois, é o silêncio, esse silêncio líquido de Maria: um filho gerado na solidão, sem um lamento (“E o Anjo deixou-a”), as implicações que aquele sim havia de ter na sua vida, a coragem de calar os medos, de não pedir contas dos mistérios de Deus.
Maria tem sido para mim um exemplo neste sentido: “Ela guardava todas as coisas no coração”. Apesar de não entender.
Confesso que, às vezes, me faz impressão a serenidade desta mulher face às respostas de Jesus. Exemplo disto é a perda e o encontro do Menino que, afinal, está no Templo entre os Doutores, a “tratar das coisas do Pai”.
Maria, aflita, calou as suas palavras. Ela sabia que aquilo tinha de ter um sentido. Porque eram coisas de Deus. E ela confiava. Plenamente. E mais, ensinou-nos e ensina-nos a confiar. Também plenamente. E ter fé há-de ser isto.
O outro aspecto que me apaixona nesta Senhora de mim é a sua atenção às necessidades dos filhos. Ela sabe o que nos falta e “roga por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte”.
Maria é a que se põe a caminho. É Ela que vai ao encontro dos que precisam: vai ter com Isabel que precisava dela; em Caná, nas bodas, está atenta. É Ela que pede a Jesus:
- Filho, não têm vinho! e vinho é tudo o que nos falta: pão, dinheiro, saúde, trabalho, esperança, coragem, um sentido para continuar aqui.
E, depois, indica o caminho. Exactamente da mesma maneira que se tinha atirado no abismo de Deus, na hora do anjo:
- Fazei o que Ele vos disser!
Maria indica o caminho de Deus. Proporciona o nosso encontro com Cristo.
Em Fátima, acaba por ser a voz do céu que volta a indicar o caminho para a salvação:
- Fazei o que Ele vos disser.
E o que Ele diz é apenas isto:
- Enchei as talhas com água.
Que é o mesmo que dizer:
- Enchei o coração com amor.
Isto é,
- amai-vos uns aos outros!
Porque quem tem as talhas cheias, derrama-as, transforma a água em vinho, permite que se operem os milagres.
Nossa Senhora liga a terra ao céu. Ela é a maneira de chegar a Deus ou de Deus chegar aos homens.
Quanto a mim, a atitude de Maria nestas bodas definem o seu papel na Igreja. Ela aponta o caminho da salvação.
Maria é uma escola de amor. Ela é a Mãe. E ensina (a mensagem de Fátima é disso testemunha) que só o amor pode mudar positivamente o rumo da história.
Finalmente, a hora da cruz. Nesse dia, Maria está de pé junto da cruz de Jesus. Ninguém a ouve gritar. Ninguém lhe sente o desespero de Mãe, ao lado do Filho quase morto. Ninguém.
Nesse dia do Calvário, Jesus faz o Seu Testamento: entrega-nos à Mãe:
- Mulher, eis o teu filho!
E nós fomos João, o discípulo amado.
Depois disse a João:
- Eis a tua mãe.
E nós éramos João. Outra vez.
Já não estávamos sós. Maria ficaria sempre connosco, mesmo nas horas da cruz. Daí para a frente, Ela estaria, também de pé, ao lado da minha cruz, das nossas cruzes de todos os dias, segurando as mãos que nos vão caindo, limpando as lágrimas que vamos derramando, cobrindo - nos com o céu do seu manto.
Sabe-se, porém, que há um depois deste momento: ”a partir daí, o discípulo recebeu-a em sua casa.” João. Nós.
É, portanto, nossa obrigação fazer o mesmo: recebê-la em nossa casa, no nosso coração, na nossa vida. Há um poeta que diz que “a minha casa é onde mora o meu coração”. E receber a Senhora em nós implica arranjar-lhe um lugar, ter tempo para Ela, dar-lhe o melhor do que somos.
Esta passagem da Imagem Peregrina é um pouco símbolo deste acolhimento. Preparámos a terra, iluminámos os caminhos, viemos para a rua para nos deixarmos fixar pelo olhar de Maria que nos deixou “o céu mais perto”, como afirmou no dia 12 de Outubro, D. António Carrilho.
Nestes sete meses, acolhê-la é acertar os nossos passos com os dela, é acender a esperança que alumia as nossas noites, é deixar que os nossos lenços brancos sejam asas e lhe levem os nossos beijos, é deixá-la ficar connosco no para sempre da nossa vida. Só assim alcançaremos todos os milagres de que precisamos.
E pronto. Antes de me calar e de dar a palavra a quem sabe disto, vou pedir licença para ler um dos textos que fazem parte da exposição itinerante que está a acompanhar a imagem da Senhora pela nossa terra.

Mãe,
guardei o meu coração para te oferecer nestes tempos em que vieste visitar-me. Trouxe-te a luz dos caminhos, o canto dos peregrinos, o silêncio das noites. Trouxe-te o melhor de mim, apesar da vida e do tempo e do medo. Trouxe-te quem sou: às vezes sorriso, às vezes desespero, às vezes abraço, às vezes solidão.
Vim, Mãe Santíssima, porque em ti encontrei a minha casa. Mesmo quando a noite me apagou a esperança, quando a dor me choveu nos olhos e me derramei no chão. Vim, Senhora de todos meus passos, porque sempre houve lugar para mim no abrigo azul do teu manto, na ternura branca dos teus silêncios, nas palavras caladas, guardadas na cruz do teu Filho.
Senti-te à beira da minha cama, nos momentos de pedra; senti-te estrela, nas alturas de alegria; senti-te presença na hora das lágrimas.
Por isso, só me resta colar os meus olhos aos teus, as tuas mãos às minhas e agradecer-te, da pequenez da minha humildade por nunca teres largado o meu coração.
Senhora de Fátima, peço-te, esta noite, aquilo que eu, no segredo de mim, pedia à minha mãe antes de dormir: Se eu me perder, encontra-me.  Ámen.

Que, neste século louco e solitário, a gente aprenda com a Imagem da Senhora de Fátima a elevar as mãos para o céu, mas a pousar os olhos nos irmãos.

GRAÇA ALVES

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FICHA TÉCNICA:Hino da Visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima à Diocese do Funchal

LETRA - Pe. GISELO ANDRADE

MÚSICA - Pe. IGNÁCIO FIGUEIRA RODRIGUES

GRUPO CORAL "FLORES DE MAIO" - PORTO DA CRUZ

ORGANISTA - JOÃO CALDEIRA

DIRECÇÃO ARTÍSTICA - VIRGÍLIO CALDEIRA

CAPTAÇÃO DE SOM e EDIÇÃO DIGITAL -JOÃO CALDEIRA

"Novo" Calendário da Visita da Imagem Peregrina

Paróq. de Fátima - Funchal - 12 e 13 Fev.

Hosp. Dr. João de Almada e Paróq. do Livramento - 12 e 13 de Fev. - Fotos de Carlos Cabral

Monte, Visitação e São Martinho - 7 a 11 Fev. - Fotos de Carlos Cabral

Paróquia da Nazaré - 5 a 7 Fev. - Fotos de Carlos Cabral

Mosteiro das Irmãs Clarissas - Caldeira

Serra de Água e Ribeira Brava - 9 a 13 de Dez. 09

São João - Rib. Brava - 7 a 9 de Dez. 09

Ad perpetuam memoriam - Bênção da Imag. de N. Senhora no Jardim junto à Igreja da Calheta - 20/11/09

Fotos da Visita da Imagem Peregrina em 1948 (7 a 11 de Abril)

Recepção e Acolhimento da Imagem Peregrina na Paróquia da Ponta do Pargo

Imagem Peregrina nas Achadas - 3 e 4 de Nov. 09

Estada e partida da Imagem Peregrina na Santa

Acolhimento da Imagem Peregrina na Paroquia da Santa com passagem pela Cap. dos Lamaceiros - 1/11/09

O dia/noite da despedida da Imagem Peregrina no Porto Moniz

A noite da chegada da Imagem Peregrina ao Porto Moniz

Imagem Peregrina nas Feiteiras

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Imagem Peregrina na Ponta Delgada1

Imagem Peregrina na Boaventura

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As palavras dos Adultos e os cânticos das Crianças na Inauguração da Exposição Itinerante

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Praça do Colégio 12 de Out. 2009

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