Que sentido tem para nós a chegada da imagem de Nossa Senhora de Fátima à Madeira?
Da infância guardo as descrições feitas pela minha avó de idêntica visita feita há sessenta anos, documentada em reportagem fotográfica extensa e muito expressiva.
Testemunhei os momentos vividos com tanta intensidade nas ruas da minha Paróquia por onde passa a procissão das velas a 13 de Maio.
Sei do valor que a Mãe de Deus tem na história de Portugal, coroada rainha por D. João VI, personagem influente em lendas e passos da nossa cultura, orago em inúmeras igrejas ermidas e capelas.
Mas que sentido terá para nós, aqui e agora, esta visita?
Muitos acharão estranho e até talvez ridículo o valor que outros darão a uma imagem a percorrer ruas e praças das nossas cidades e aldeias.
Outros, na sobranceria da cultura que julgam superior, desvalorizarão o sentido dos que se abeiram da imagem, guardando para si um preconceito de sub-desenvolvimento por detrás da pergunta: porque será que a influência da imagem da Virgem mãe tanto se faz sentir no viver de muitas pessoas, de diferentes condições e localidades?
É para mim evidente que o acontecimento excede o valor do registo histórico.
Na imagem da Virgem Maria os cristãos procuram o Deus revelado em Cristo. Sentem-na como a interlocutora, a que está entre nós e Deus Pai. Sabem que foi a Ela que Jesus nos confiou, pedindo que a albergássemos em nossa casa e a fizéssemos nossa mãe como Dele foi. É nossa proximidade materna que o Amor de Deus se revela mais humano, mais atento, mais “nosso”.
A procura do amor de Deus é um acontecimento que é cultural porque é intrínseco à natureza humana. Ao contrário da ideia de alienação que quiseram interpretar nesta procura do divino, a descoberta do amor de Deus é exigente, muito exigente mesmo para com cada um e na sua relação com o outro. A mãe ensina-nos essa dimensão que nos interpela, que vai mais longe, que sabe abnegar-se para servir. Ela própria foi a maternidade do sim, pronta a ser a “serva do senhor”.
Mas a imagem da Senhora revelada em solo luso, transporta também, na mensagem de oração e de paz, conforto aos cristãos de boa vontade. Confiamos na sua intercessão e sabemos que, à distância, nos acompanha e nos protege. Sentimo-la como auxílio nas horas aflitivas, inspiradora nos momentos difíceis, depósito das nossas ansiedades e preocupações. Entregamos-lhe os nossos filhos, os nossos idosos, as nossas doenças, as nossas falhas.
Estranha manifestação para um Mundo auto-suficiente, tão cheio de si. Estranha devoção para a materialidade que nos rodeia, como se ela fosse a panaceia para todas as nossas preocupações.
Nesse sentido, a imagem de Fátima é também provocação para uma sociedade que reserva a fé ao íntimo escondido de cada um. Parece que nos querem fazer envergonhar por termos e tentarmos ser seguidores da mensagem de Cristo. Parece que estaríamos condenados a não manifestarmos a alegria do símbolo que esta imagem representa.
Que a imagem de Fátima seja bem recebida na nossa Terra mas acima de tudo no coração de cada madeirense.
Ricardo Vieira
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