Hoje, trago as ilhas na voz. Sou apenas o eco atlântico de um arquipélago que se vestiu de amor para acompanhar a Imagem de Nossa Senhora de Fátima que, durante sete meses, peregrinou entre nós.
Queria saber bordar as minhas palavras a ponto luz para falar do que se viveu à volta desta Visita. Queria saber desenhar imagens novas para dizer da fé, do empenho, da generosidade de todas as comunidades desta Diocese. Queria saber contar dos segredos que voam nas asas dos lenços que, hoje, lhe dizem adeus. Queria conhecer as palavras certas para agradecer a presença de Fátima no meio da minha gente.
A minha voz de hoje é voz de um povo que, em Outubro, saiu à rua, enfeitou as varandas e, de joelhos, acolheu a Mensagem. A minha voz de hoje traz a força das procissões e a toada dos rosários rezados com a vida. Traz a alegria da Festa e a esperança de um ano novo abençoado pela Mãe. A minha voz de hoje traz o parto doloroso da terra, rompendo em tragédias ribeira abaixo e enlameando a coragem. Traz as mãos que se deram para tomar a ilha nos braços e levantá-la do chão. Connosco dentro. Com a protecção de Maria, aqui, lutando connosco contra o desespero, aos pés do nosso cansaço.
A minha voz de hoje traz um abraço de Mãe, na hora da nossa cruz, na alegria do Domingo de Páscoa, na gargalhada de flores que Deus semeou no nosso chão. A minha voz de hoje traz as luzes que beberam as noites, traz as dores e as solidões, os sucessos e os medos, a paz que se levou para casa e se guardou no peito.
E é silêncio. O silêncio que ficou pendurado nos beirais destes montes. O silêncio que ficou inscrito no chão louro de um Porto que ficou mais Santo.
Talvez seja saudade, a minha voz de hoje. A Imagem congregou-nos à volta do altar. Mas é, sobretudo, gratidão. Porque ficou a Mensagem. Ficou o olhar de Deus nos olhos da Mãe. Ficou a Mãe, amor de Deus explicado aos homens. Ficou o Amor.
Hoje, a minha voz é a voz das ilhas da Madeira e do Porto Santo. É voz de despedida. Tem lágrimas de mar a casear-lhe as palavras. Mas é também voz de quem sabe que a Imagem vai, mas que a Mãe não. Fez do nosso abraço a sua casa.
Amanhã, há-de fixar, de novo, os nossos olhos e dizer, outra vez: Fazei o que Ele vos disser. Amanhã é advérbio de esperança.
Hoje, trago as ilhas na voz. E quero ser a voz das ilhas a dar graças a Deus porque nos deixou, no para sempre das nossas vidas, a Sua Mãe.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós!
Graça Alves
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