Maria, o abraço materno
da ternura de Deus!
Nesta bela tarde do mês de Maio, aqui estamos reunidos, em tão grande número, vindos de toda a Ilha da Madeira e do Porto Santo, junto da Imagem da Senhora Peregrina, nesta hora de despedida e do seu regresso a Fátima. Temos diante de nós a beleza da imensidão do mar, sulcado pelo espírito de aventura dos descobridores, aquando da sua chegada à paradisíaca Ilha da Madeira, em 1418. Há 592 anos, nesta linda e histórica baía da cidade de Machico, no local da Capela do Senhor dos Milagres, memorial da gloriosa gesta, foi celebrada a primeira eucaristia pelos sacerdotes franciscanos. Hoje, é a Mãe que nos convoca e reúne, neste mesmo lugar, para celebrarmos as maravilhas e a bondade de Deus, comungando os mesmos sentimentos filiais de louvor e gratidão, pelas graças e bênçãos que a Santa Mãe de Deus derramou em toda a nossa Diocese, ao longo dos sete meses de peregrinação da sua Imagem. Com grande fé e profunda alegria, aclamemos Maria, dizendo: “Tu és a honra do nosso povo”!
Maternidade espiritual de Maria A centralidade da Palavra, que acabámos de escutar, está na excelsa maternidade divina de Maria, proclamada e confirmada solenemente pelos Padres da Igreja no Concílio de Éfeso, no ano 431. Nossa Senhora é a Mulher “bela como noiva adornada para o seu esposo” (Ap 21,2), a nova Jerusalém que desce do céu e simboliza a humanidade transfigurada pela presença de Deus, que tudo renova, apontando para “um novo céu e uma nova terra”, como escutámos na primeira leitura (cf. Ap 21,1-5). Maria é referência desta Beleza transparente e Imaculada, a Mãe do Puro Amor, a criatura mais perfeita saída das mãos do Pai e paradigma da Igreja, que diante da Santíssima Trindade vela continuamente por cada homem e por cada mulher, especialmente nas situações de sofrimento, luta e dificuldade. Foi Maria a mulher que, ao chegar a plenitude dos tempos, com o “sim” incondicional ao Espírito Santo, acolheu no seu seio a Encarnação divina do Verbo, Jesus Cristo, que é a plenitude da revelação do Amor Infinito de Deus pela Humanidade, fazendo os homens Seus filhos (cf. Gal 4,4-7). O texto evangélico de S. João, que acabámos de escutar (19, 25-27), é de uma grande simplicidade e riqueza teológica. Ao entregar-nos Maria, Jesus confia a cada homem e a cada mulher, o Coração de Sua Mãe, cheio de amor e de ternura, sempre próximo e vigilante, para nos relacionarmos com ela como filhos muito amados: “Eis a tua Mãe. E a partir daquela hora o discípulo recebeu-a em sua casa” (Jo 19,27). Com Maria em nossa casa, isto é, na nossa vida, na família, no trabalho, em todas as actividades e na sociedade em geral, é possível viver a aventura evangélica e percorrer os caminhos da Paz e da Esperança. Jesus trata sua Mãe por “Mulher”, porque a partir daquele momento, Ela tem uma missão importantíssima: Maria simboliza a Igreja e torna-se a Mãe do Corpo Místico de Cristo. O discípulo predilecto, João, filho de Zebedeu, simboliza todos os crentes, que lhe devem dedicar uma profunda veneração e amor filial. De facto, do lado aberto de Cristo nasceu a Igreja, Corpo de Cristo, e Maria é a Mãe do novo Povo de Deus, é a Mãe da Igreja.
Devoção ao Imaculado Coração de Maria A mensagem de Fátima é de uma grande actualidade pela sua riqueza teológica e espiritual. É um apelo evangélico à oração, à conversão, ao amor eucarístico, à adoração da Santíssima Trindade e devoção ao Imaculado Coração de Maria. Sabemos que entre a Diocese do Funchal e Fátima há uma profunda relação e afinidade espiritual, centrada, precisamente, nesta devoção ao Imaculado Coração de Maria. Na verdade, esta devoção foi amplamente difundida na Madeira, quatro anos antes das Aparições de Nossa Senhora em Fátima. A Madre Virgínia da Paixão, clarissa mística madeirense, havia recebido de Nossa Senhora essa mensagem, com o pedido da consagração ao seu Coração Imaculado. O meu antecessor, D. António Manuel Pereira Ribeiro, respondeu ao apelo de Nossa Senhora, exortando, nesse sentido, todas as paróquias da Diocese, em 26 de Agosto de 1926, e vindo ele próprio a congregar milhares de madeirenses de toda a Ilha, numa imponente manifestação de fé, no Terreiro da Luta, no dia 28 de Maio de 1933. Foi então que consagrou toda a Diocese do Funchal ao Coração Imaculado de Maria, acto público, que hoje iremos renovar, no termo desta concelebração eucarística. Peço a Nossa Senhora que nos introduza na intimidade do Seu Coração de Mãe, escola de autêntica Sabedoria, Humildade e Amor; que nos acompanhe pelas estradas da vida e mantenha sempre acesa em nós a chama da Fé e da Esperança, num generoso compromisso cristão e social. Que saibamos todos expressar, com simplicidade, o nosso amor a Maria-Mãe, como a pequenina Jacinta: “Gosto tanto do Imaculado Coração de Maria”!
Momentos inesquecíveis de festa e interioridade Caríssimos diocesanos, a presença da Imagem Peregrina na Diocese do Funchal foi verdadeiramente uma inspiração do Senhor, que trouxe muita consolação, alegria e abundantes bênçãos à Madeira e ao Porto Santo. Como tive oportunidade de vos comunicar na “Mensagem de Despedida”, recentemente publicada, foi com grande fé e alegria que as paróquias e muitas instituições da nossa Diocese acolheram a Imagem Peregrina, vivendo-se, por toda a parte, momentos inesquecíveis de festa, interioridade e expressão cultural: encontros e celebrações das comunidades reunidas, tempos de oração pessoal e escuta da mensagem de Maria-Mãe, na intimidade das consciências e dos corações. A Mãe é o abraço que aproxima e envolve na ternura de Cristo! De facto, foi extraordinário! A presença da Mãe, ao passar através da sua Imagem, foi congregando pessoas de todas as idades e meios sociais, instituições públicas e privadas, religiosas, sócio-caritativas, culturais e desportivas. Nas comunidades todos se envolveram e colaboraram: comissões e conselhos paroquiais, associações e confrarias, catequeses e escolas dos diversos níveis, municípios e juntas de freguesia, esquadras da PSP e da GNR, corporações de bombeiros, casas do povo e ranchos folclóricos, coros, bandas e grupos musicais, clubes de motards e outros. Em cada comunidade muitos se relacionaram, partilharam generosamente os seus dons e trabalho, uniram-se em torno de um mesmo objectivo, fora da rotina quotidiana, interpelando ao sentido da vida, a novos comportamentos e compromissos, de acordo com a Boa Nova, o Evangelho de Jesus. “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2,5) foi, sem dúvida, a recomendação de Maria mais recordada e dirigida a todos quantos se encontraram, verdadeiramente, com ela. O abraço de Nossa Senhora une todos, os de perto e os de mais longe. Na verdade, também os nossos emigrantes, ao terem conhecimento da visita da Imagem Peregrina, se alegraram e se uniram espiritualmente a nós, de modo particular quando a Imagem visitou as suas paróquias de origem ou no período de Natal, aqueles que então se deslocaram à Madeira.
O Santo Padre – Peregrino de Fátima Amanhã, muitos de nós, iremos em peregrinação até Fátima, acompanhando a Imagem de Nossa Senhora, e lá participaremos na breve cerimónia da sua entrega ao Santuário, na Capelinha das Aparições, às 21h00. Lá teremos, também, a possibilidade de estar com o Papa Bento XVI, que chegará a Lisboa, no dia 11 de Maio. Peregrino de Fátima vem rezar connosco à “Senhora da Mensagem” e confirmar na fé os seus irmãos e irmãs, nesta hora tão exigente da história da Igreja e da Humanidade. A sua presença é uma enorme graça do Senhor para a Igreja Portuguesa, face às necessidades do tempo presente e aos desafios da nova Evangelização. Procuremos todos, lá e aqui, estar atentos, escutar e acolher a riqueza da mensagem do Santo Padre, com o seu pensamento profundo e clarividente.
Na hora do “adeus” Passados sete meses de Visita da Virgem Peregrina à nossa Diocese, está a chegar a hora da despedida! Passa a Imagem, mas fica a Mensagem, agora mais viva e presente no coração de cada crente, estimulando a uma devoção filial mais coerente com a fé e comprometida na vida cristã e social. Maria leva no seu Imaculado Coração de Mãe os segredos, as lágrimas silenciosas, os sofrimentos, as esperanças e as alegrias de quantos a invocaram e invocam, com profundo amor e ternura filial. E, a terminar, uma feliz notícia: a fazer memória deste tempo de graça, que será sempre por todos recordado como verdadeira dádiva de Deus, colocaremos, em data a indicar oportunamente, junto da igreja do Imaculado Coração de Maria, no Funchal, uma estátua da Imagem Peregrina, em mármore. Também ali poderão cruzar-se os nossos olhares com o olhar de Maria-Mãe, confiando-lhe os nossos sentimentos e acolhendo os apelos que ela dirige ao coração e à consciência de cada um de nós! Senhora Peregrina de Fátima, Coração Imaculado de Maria, rogai por nós!
Machico, 9 de Maio de 2010
† António Carrilho, Bispo do Funchal
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.